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Terminal Marítimo recebeu menos de 10% dos passageiros esperados

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Inaugurado há nove anos como uma das obras da Copa do Mundo de 2014 e com custo de R$ 72,5 milhões, o Terminal Marítimo de Passageiros de Natal (TMP Natal) recebeu menos de 10% do número de passageiros projetado pelas autoridades em 2014, quando o equipamento foi entregue com a promessa de incrementar o turismo na capital. Segundo dados da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) obtidos pela TRIBUNA DO NORTE, cerca de 17,5 mil passageiros passaram pelo TMP em nove anos. A estimativa em 2014, na inauguração, era de 32 mil/ano, o que daria um total de 288 mil pessoas nesses nove anos. 

Segundo dados da Codern, foram 35 cruzeiros ancorados em Natal ao longo desses anos, cada um com média de 500 passageiros. Com o baixo uso, a Codern já decidiu que fará a mudança de sua parte administrativa para o TMP em breve, com o intuito de aumentar a retroárea do Porto de Natal. Com a mudança, o terminal não será desativado e continuará recebendo passageiros eventualmente. O terminal tem custo anual de R$ 612 mil e não recebe eventos desde outubro de 2019. Segundo especialistas, o TMP está “subutilizado”.

Segundo os dados da Codern, 35 cruzeiros de pequeno e médio porte passaram pelo TMP entre 2014 e 2023, sendo a maior parte deles nos anos de 2014 e 2018, com 25 cruzeiros. Para se ter ideia, antes do TMP, em 2011, foram 40 escalas de cruzeiros, tendo apenas quatro em 2015. Entre 2019 e 2023, no entanto, esse número não passou de quatro cruzeiros/ano. Vale salientar que a pandemia impediu o trânsito de cruzeiros entre 2021 e outubro de 2022, quando este segmento do turismo foi retomado.

O TMP Natal foi inaugurado pouco depois da Copa do Mundo de 2014 e tem capacidade para 3.000 passageiros/hora. Localizado na Rua Chile, no coração da Ribeira, diretores da época apostavam que o espaço teria rentabilidade ao passo que poderia ser um equipamento importante na revitalização do bairro, que há anos sofre com abandono e esvaziamento de moradores, serviços e eventos.

Segundo avaliações de especialistas, outras questões atrapalharam o turismo de cruzeiros em Natal: o fato da Ponte Newton Navarro ter limitações de altura, já que seu vão central de 55 metros limita a entrada de grandes navios com mais de 1.000 passageiros; e o fato do Rio Potengi ser “raso”, com um calado de pouco mais de 12 metros. A última dragagem, que consiste na ampliação da profundidade do rio, foi feita em 2010 e uma nova está sendo estudada.

Para o diretor-presidente da Codern, Nino Ubarana, outra dificuldade foi o fato de que a Ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco, deixou de ter uma rota de cruzeiros partindo de Natal em 2013. “Essa rota deixou de acontecer a partir da limitação de órgãos ambientais (Ibama) quanto ao número de passageiros que podem descer no arquipélago”, explica. A redução na época foi de 2 mil para 400. Antes, cruzeiros paravam em Natal antes de seguir para Noronha.

“Os terminais foram pensados para serem refuncionalizados, que é você manter a estrutura e dar uma nova função ao local caso ele se encontre ocioso. Essa ociosidade se dá em virtude da sazonalidade no turismo do Estado. Para não deixar o terminal fechado, a Codern e outros terminais abriram para eventos, aproveitando do paisagismo e da estrutura. Nesse ponto, o TMP tem sua operacionalidade muito pontual. O rio é muito raso, a Codern já fez inúmeros estudos para dragagem do rio e isso impede que não cheguem grandes embarcações e a ponte que é muito baixa”, explica o pesquisador Francisco Xavier da Silva Junior, doutorando na UFRN em turismo e que estuda o TMP em suas pesquisas.

Segundo Nino Ubarana, já há um trâmite correndo no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e a expectativa é de que essa obra aconteça no próximo ano.

“Uma das primeiras providências  quando assumi foi tratar sobre a dragagem. É algo fundamental para abrir novas rotas de navios para Natal. O trâmite já corre no DNIT e nós devemos ter o início dessa obra no próximo ano. O diretor de Infraestrutura Aquaviária do DNIT, Erick Moura de Medeiros, já visitou o Porto a nosso convite e o processo está tramitando com as análises técnicas, iniciando com o estudo hidrográfico (batimetria) que deve iniciar agora em outubro do corrente ano”, finalizou.

Desde 2018, o TMP Natal e toda sua estrutura passou a ser disponibilizada para processo de locação, com eventos, casamentos e formaturas. Foram 26 eventos, ao todo, realizados ao longo deste período, segundo a Codern. O último deles foi no segundo semestre de 2019. São seis áreas diferentes para locação, com preços que podem chegar a R$ 5.012. O salão de eventos tem capacidade para até 1.500 pessoas. Há ainda o Mirante, no segundo pavimento, com capacidade para 600 pessoas. O TMP possui todos os equipamentos (como máquina de raio-x de bagagem) e estrutura para operação da Receita Federal, Polícia Federal e Vigilância Sanitária.

Codern usará TMP como estrutura administrativa

A Companhia Docas do Rio Grande do Norte definiu que o Terminal Marítimo de Passageiros (TMP) terá mudanças no seu uso. O órgão pretende transferir sua estrutura administrativa para o espaço, que precisará de adequações na ordem de R$ 2 milhões.

“Queremos ir para lá porque esse custo de R$ 51 mil/mês podemos agregar valor ao TMP, que está digamos, obsoleto. Indo para lá teremos redução de custos e conseguiríamos aumentar nossa retroárea. A atual sede será pátio para o Porto, sendo demolida”, explica o diretor-presidente da Codern, Nino Ubarana. Segundo a companhia, a instalação da sede não prejudicará a área para eventos nem eventuais recebimentos de passageiros.

Ainda não há prazos para a mudança da estrutura administrativa da Codern para o TMP, que aguarda previsão orçamentária para adequações na ordem de R$ 2 milhões. Segundo Nino Ubarana, já há projeto arquitetônico, mas não recursos. Outra ideia da Codern é transferir para o TMP o Museu do Porto de Natal, atualmente instalado no Mercado Público de Petrópolis.

“A questão do restaurante era uma ideia da antiga direção, mas hoje a utilização para isso seria inviável, porque o espaço está cedido para a Polícia Federal, que tem um núcleo de Polícia Marítima. Com essa cessão não onerosa não há possibilidade de atualmente termos esse restaurante. No primeiro andar seria a sede e o térreo seria para eventos. Para se ter restaurante, teria que ter uma cozinha e toda uma estrutura”, finalizou Ubarana.

Especialista: “TMP está subutilizado”

Especialistas em turismo e que estudam a relação porto-cidade em Natal avaliam que o Terminal Marítimo de Passageiros está subutilizado para sua atividade fim, que é o trânsito de passageiros. O TMP é alvo de estudo de dois pesquisadores do RN, que publicaram um artigo numa revista neste ano.

“Como Terminal de Passageiros, ele cumpre sua função. No entanto, como propósito de política pública que tinha como turismo dinamizador de um bairro da cidade, ele não cumpre essa função.  A culpa não é toda do terminal, claro. Se tivéssemos restaurantes operando de forma regular, por exemplo, não precisaríamos necessariamente de cruzeiros chegando. Até porque associamos o terminal com um dos atrativos naturais de Natal que é o Rio Potengi. O pôr do sol ali é maravilhoso, mas não conseguimos ver porque não há entradas nem passagens”, diz o pesquisador Francisco Xavier da Silva Junior.

Não é um evento aqui e ali e a chegada de um cruzeiro que vai determinar a vida do TMP. Nesse ponto, eu vejo que o TMP é totalmente subutilizado, pois não é acessível às pessoas visitarem e verem o pôr do sol”, acrescenta.

O pesquisador Francisco Xavier da Silva Junior analisa que a relação Porto-Cidade em Natal foi fragilizada ao longo das últimas décadas por uma série de razões, entre elas o abandono da Ribeira. “O turismo surge como uma perspectiva de um novo produto de um novo segmento de mercado capaz de dinamizar as atividades portuárias e incrementar uma nova relação com a cidade”, exemplifica.

“Em Salvador, por exemplo, o porto fica na região do Pelourinho, que é um centro histórico consolidado. Em Natal, temos uma Ribeira fragilizada, esquecida e abandonada. Por não ser um produto turístico forte e consolidado na cidade, quando os turistas chegam eles são direcionados para onde o turismo acontece: Ponta Negra, Tibau do Sul, esse turismo de sol e mar, e não histórico”, disse. “Não adiantou o TMP sozinho e a Ribeira não ter acompanhado o processo”, acrescenta.

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