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Mikaelle Pereira da Silva foi encontrada morta em casa no último sábado (08), aos 27 anos, em Extremoz, na Grande Natal. Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Norte (PCRN), ela foi vítima de feminicídio. Mikaelle foi encontrada com cortes e hematomas na cabeça. O marido dela é considerado suspeito; ele fugiu.
Segundo a assessoria de imprensa da PCRN, “o caso está sendo investigado pela DP (Delegacia de Polícia) de Extremoz e as investigações estão em andamento”. O irmão da vítima contou ao G1 RN que o filho do casal, de 6 anos de idade, viu o crime acontecer em casa após uma discussão dos pais.
Assim como Mikaelle, 19 mulheres foram vítimas de feminicídio no Rio Grande do Norte em 2024, ou seja, foram mortas em razão de seu gênero. O número é da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesed/RN). Segundo o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de feminicídios no RN passou de 16, em 2022, para 24, em 2023.
| 2022 | 2023 | 2024 | |
| Feminicídios no RN | 16 | 24 | 19 |
Fonte: elaborado pela Agência Saiba Mais com dados Sesed/RN e do Anuário
Portanto, de 2023 a 2024, houve uma redução de 20,8% nesse tipo de crime. Por outro lado, o cenário de violência contra a mulher ainda registra dados expressivos.
Somente no ano passado, por exemplo, o RN registrou em média de 3 denúncias por dia de casos de violência psicológica contra a mulher, segundo a PCRN, totalizando 1.239 denúncias. O aumento foi de 24% em relação a 2023, quando houve 996 registros.
2025 já teve quase 1300 pedidos de medida protetiva
Dados do Projeto Marias – Radar da Violência Doméstica, disponibilizados pelo Tribunal de Justiça do RN, indicam que, de 1º de janeiro de 2025 até 10 de fevereiro deste ano, já houve 1.283 pedidos de medida protetiva para mulheres no estado. No total, em 2024, houve 13.704 pedidos.
Já entre janeiro de 2020 e agosto de 2024, o Tribunal de Justiça do RN emitiu 37.594 medidas protetivas. No ano passado, 5.123 mulheres foram vítimas de agressão.
Na série histórica, entre janeiro de 2020 e agosto de 2024, 10.742 mulheres sofreram agressão física no estado. Em 57,99% dos casos, as vítimas foram agredidas na presença de seus filhos. As agressões mais frequentes foram empurrões (21,28%), tapas (17%) e puxões de cabelo (14,7%).
Números recentes mostram que o Rio Grande do Norte teve redução no número de mortes violentas intencionais – o feminicídio é um dos casos. Em uma série histórica desde 2011, o RN encerrou 2024 com o menor número de mortes violentas, com 835 mortes. O número caiu 20% em relação ao ano de 2023, quando registrou 1.045 assassinatos, conforme a Sesed/RN.
Dados mostram cenário preocupante
Segundo o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as tentativas de feminicídio também aumentaram no RN, passando de 37, em 2022, para 42, em 2023, o que implica numa alta de 13,5%. O mesmo se repete com os dados de violência doméstica contra mulheres. Foram registrados 2.777 casos, em 2022, e 3.145, em 2023, o que resulta numa alta de 13,3%.
O levantamento do Projeto Marias – Radar da Violência Doméstica, no RN, ainda aponta que um quarto das vítimas sofreu agressões durante a gravidez ou nos três meses após o parto. Mulheres pardas foram as mais afetadas, tanto em casos de violência física quanto sexual. Além disso, 77% das vítimas declararam ser financeiramente independentes, mas 47% possuem filhos com o agressor. Outro dado preocupante é que 45% das vítimas relataram que familiares também sofreram agressões.
O perfil dos agressores revela que 33,1% fazem uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, e 32,96% possuem acesso a armas de fogo. A maioria (76%) não possui doença mental comprovada, mas 34% já tentaram ou falaram em suicídio. Além disso, 66,73% respeitaram medidas protetivas anteriormente concedidas. Os dados do Projeto Marias são extraídos automaticamente dos processos judiciais e servem para orientar políticas públicas de combate à violência contra a mulher.
A reportagem da Agência Saiba Mais solicitou dados sobre o total de tentativas de feminicídio e casos de violência contra a mulher em 2024 junto à PCRN e à Sesed/RN, mas não localizou as informações até o fechamento da matéria.
No Brasil, a violência doméstica também é alarmante. Pesquisa do Instituto Patrícia Galvão revelou que 21% das mulheres já sofreram ameaça de morte por parceiros ou ex-parceiros, e 60% conhecem alguém que passou por essa situação. Mulheres negras são as principais vítimas, e a maioria das ameaçadas rompeu a relação após a intimidação.
A preocupação com o feminicídio é crescente: 60% das mulheres acreditam que a impunidade incentiva o aumento dos casos. Além disso, 80% das entrevistadas consideram que a Justiça e as autoridades policiais não tratam as ameaças com a seriedade necessária. Embora a rede de atendimento seja considerada eficiente, a demanda ainda supera a capacidade dos serviços disponíveis.
Como buscar ajuda
O Ligue 180 é um serviço gratuito e funciona 24h todos os dias e recebe denúncias de violações contra as mulheres. Além disso, o canal de denúncia encaminha relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.
As vítimas também podem recorrer ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras), ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) ou ao Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram) e às Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (Deam) do seu município ou região metropolitana.
Para emergências e urgências, ligue 190.
Saiba Mais
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