Um restaurante sempre lotado e sem nenhuma sobremesa no cardápio. Foi observando o movimento de clientes no local onde trabalha como motoboy que Alberto Fagundes viu uma chance de negócio para a esposa, que trabalhava em casas de família como empregada doméstica, conseguir uma renda extra vendendo sobremesas na saída do restaurante.
A iniciativa deu tão certo que, o que começou com uma caixinha de isopor com dindins e trufas, virou um sustento para a família. Hoje, eles têm um carrinho com diversos tipos de sobremesas que chama a atenção de quem passa por ali.
“Ela começou vendendo dindin com uma caixinha de isopor emprestada. Ela ficava ali (aponta para o outro lado da calçada), no restaurante antigo porque o Zumbi novo não existia ainda, depois ficou embaixo de uma árvore na outra esquina até que o dono do restaurante deu a oportunidade para que ela colocasse o ponto aqui e ficasse na calçada. Ela foi vendo o movimento e vendo o que tinha chances de vender. Começou fazendo cone trufado, trufas e os dindins, mas foi se aprimorando e buscando novas sobremesas. Hoje temos o carrinho – Deus nos abençoou – e trabalhamos em família, somos eu, minha mãe, minha tia e umas meninas que ajudam, além do meu padrasto”, conta Jamilly Lohane de Morais, que é professora em Santa Cruz e ajuda a mãe nas vendas nos finais de semana.
Para dar conta dos doces, Luciana Venâncio acorda todos os dias às 4h da madrugada para fazer as sobremesas. O carrinho permanece funcionando até às 23h.
“Hoje continuamos vendendo os dindins, mas tem docinhos e várias sobremesas diferentes, como o copudin (copo de pudim – um tipo de doce com pudim no topo). Tudo é ela que faz e como é muito corrido, ela não tem tempo de estar aqui, porque precisa estar repondo sempre”, explica Jamilly.
As mulheres ainda são minoria nas grandes empresas, mas aos poucos, vão chegando lá. Pelo menos 29,83% das empresas no Rio Grande do Norte têm mulheres no quadro societário. Ao todo, são 102.445 empresas com mulheres como sócias, segundo dados de março da Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Norte (Jucern).
Apenas 25,75% das empresas no RN (88.451) são comandadas exclusivamente por elas, enquanto 70,17% (241.012) são lideradas por homens. As mulheres ficam à frente quando o foco são os pequenos negócios. Até março deste ano, 90,27% das empresas com mulheres no quadro societário eram micro empresas.
Saúde mental
Bárbara estava perdendo a saúde mental por excesso de trabalho quando percebeu um novo propósito profissional: trabalhar com o chamado ‘black money’. Foi assim que nasceu a Bensà, uma EdTech voltada para acelerar negócios de empreendedoras negras a partir de três pilares: letramento racial, saúde mental e mentoria de negócios.
Hoje, a empresa, fundada há seis anos por Bárbara em parceria com a irmã Bianca, possui seis companhias no portfólio e atua com treinamento e desenvolvimento de pessoas.
“Esse trabalho me permite ensinar o que acredito, levar prevenção de burnout para as organizações. Gerenciar meu tempo e minha energia”, avalia Bárbara.
A dupla até participou de uma edição do programa Shark Tank Brasil. Recebeu uma proposta de investimento de R$ 250 mil em troca de 45% da sociedade com investidores, mas o aporte financeiro acabou não chegando.
Nacional
No Brasil, as mulheres tem um pouco mais de participação. Ao todo, são 10 milhões de mulheres donas de negócios, o equivalente a 34,4%, segundo levantamento do Sebrae, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE, realizada 3º trimestre de 2022.
Foi no dia a dia do trabalho como jornalista que Luciana Tito virou a chave e percebeu que havia uma demanda que não estava sendo atendida.
“Com o tempo, fazendo assessoria de comunicação voltada para o varejo eu fui percebendo o quanto de necessidade as empresas tinham de uma comunicação mais clara e assertiva para captar o cliente, para se conectar com ele e poder vender. Vi que o mercado não oferecia esse tipo de serviço: uma consultoria para comunicação voltada para atendimento ao cliente e, consequentemente, para venda, que é o que eu chamo de entender para atender. Entender o cliente através da comunicação para poder atender e vender. Foi a partir desse momento em meio a pandemia em 2020 que eu percebi que eu tenho esse potencial, que poderia ir mais além”, resgata Luciana Tito.
A jornalista trabalha como assessora de imprensa na Câmara de Dirigentes Lojistas de Natal (CDL Natal), na Federação da Câmara de Dirigentes Lojistas (FCDL) e como produtora na TV Câmara Natal.
“A profissão de jornalista é muito castigada, a gente tem que trabalhar muito e em muitos lugares ao mesmo tempo para poder ter uma renda legal, afinal, nós temos um dos piores salários do Brasil da categoria. Então pelo salário já não queria trabalhar em redação comercial ou jornal impresso porque despendia muito tempo. Eu tinha que trabalhar de domingo a domingo porque as emissoras de televisão e os jornais impressos não param, então não tinha sábado nem domingo, não tinha feriados, eram escalas de plantão. Na época eu tinha filhos pequenos e isso me incomodava muito, então, eu fui vendo que se eu partisse para essa área da comunicação empresarial eu teria melhores rendimentos e melhor qualidade de vida”, justifica Luciana, que pelo contato permanente com o varejo acabou se tornando conhecida, também, como a Queridinha do Comércio.
Mão de obra feminina é maioria no setor de serviços
O setor de serviços é o que mais absorve a mão de obra feminina no Brasil, chegando a 53% do total. Foi de olho nesse mercado que a Caza Rosa foi fundada há três anos. O espaço conta com estações de coworking, locação de salas para mulheres que não têm espaço físico de atendimento, mas desejam um lugar sofisticado para receber clientes.
No local, também há espaço para eventos corporativos, cabines individuais, para eventos no estilo ‘roda de conversa’, além de uma cafeteria, que também é locada para eventos:
“Nossas clientes são mulheres empreendedoras, são psicólogas, nutricionistas, advogadas… profissionais de diversas áreas que não têm espaço físico de atendimento, mas que desejam estar em um ambiente feminino sofisticado para atender aos clientes de forma especial”, explica Kaline Ferreira, gerente da Kaza Rosa.
O futuro é logo ali
Assim como em diversos outros setores da vida, a estimativa é que a participação das mulheres também cresça no ramo do empreendedorismo nos próximos anos. Pelo menos é o que indicou a pesquisa Monitor Global de Empreendedorismo 2023 (Global Entrepreneurship Monitor – GEM), realizada no Brasil com pessoas que têm a intenção de investir em um negócio nos próximos três anos.
O levantamento apontou que o público feminino respondeu por 54,6% do empreendedorismo potencial no ano passado, quando na pesquisa de 2022, os homens haviam respondido pela maioria (55%). Além de uma maioria de mulheres, a pesquisa também revela uma tendência de empreendedores mais jovens, com até 34 anos em sua maioria, e formado por pessoas pretas e pardas.