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Em decisão unânime, BC interrompe cortes e mantém Selic a 10,5% ao ano

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Depois de sete quedas seguidas ao longo de um ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros e manteve a Selic em 10,50% ao ano. Ao longo do ciclo de flexibilização de juros, iniciado em agosto do ano passado, foram seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual e uma de 0,25 ponto. A taxa básica se mantém agora no menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.

Com a pausa na flexibilização dos juros, o colegiado do BC ignorou a pressão feita pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) às vésperas do encontro decisivo e agiu em linha com a expectativa do mercado financeiro, que já esperava o fim do ciclo de cortes. A taxa permanece inalterada em meio ao impasse do governo Lula na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.

Mais do que o resultado, a grande expectativa dos agentes era sobre o placar da decisão, sobretudo após após o presidente Lula retomar a ofensiva contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto. A votação unânime agrada o mercado, depois da forte divisão da reunião de maio. Na ocasião, cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro votaram pela redução da Selic em 0,25 ponto porcentual, enquanto os quatro indicados por Lula votaram por uma queda maior, de 0,5 ponto.

O racha levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado, o que contribuiu para a piora das expectativas e para uma alta expressiva do dólar nas últimas semanas.
A expectativa sobre o novo placar escalou após declarações de Lula nesta terça-feira, 19, em entrevista à CBN. Lula disse que o chefe da autoridade monetária não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o País.

O presidente afirmou que hoje o Brasil vive um cenário que exige juros mais baixos para convencer os empresários a investir no País e comparou Campos Neto com o ex-juiz Moro, ao dizer que o chefe do BC tem mesmo papel, “com rabo preso a compromissos políticos”.

Votaram pela manutenção tanto o presidente Roberto de Oliveira Campos Neto como os diretores, Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

Segundo o comunicado, o Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela.

Juros reais
O País segue em segundo lugar no ranking mundial dos juros reais (descontada a inflação à frente). Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,79%, apenas atrás da Rússia (8,91%). Em terceiro, aparece o México (6,52%).

A média das 40 economias pesquisadas é de 0,36%. Até a informação mais recente divulgada pelo BC, o juro neutro brasileiro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, era estimado pela instituição em 4,5%. Em reunião do mercado com o BC no início deste mês, economistas cogitaram a possibilidade de o juro real neutro já estar próximo da casa de 6%.

IPCA 2025 deve chegar a 3,1%, aponta Copom

O Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a apresentar um “cenário alternativo” de inflação, com a taxa Selic constante, pela primeira vez desde maio de 2023. No comunicado desta quarta-feira (19), o colegiado informou que, sem novos cortes de juros, prevê que o IPCA ficaria em 3,1% no ano que vem, o horizonte relevante da política monetária.

A taxa prevista ainda supera o centro da meta, de 3%, mas está 0,3 ponto porcentual abaixo da projeção oficial do BC para o ano que vem, de 3,4%.

No cenário de referência, que utiliza câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2024 de 3,8% para 4,0%. Para 2025, a atualização foi de 3,3% para 3,4%.

Também considerando o cenário de referência, a autarquia atualizou no Copom as projeções para os preços administrados. Em 2024, a estimativa passou de 4,8% para 4,4%. Já em 2025, manteve-se em 4,0%. Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e 2025.

No mercado, a expectativa de inflação do Boletim Focus deste ano disparou entre os dois encontros do Comitê (de 3,72% para 3,96%) e a para 2025, foco principal da política monetária, também aumentou significativamente – de 3,64% para 3,80%. Tanto as projeções do Copom quanto as do mercado seguem bem acima da meta contínua, de 3,00% que deve ser oficializada pelo governo na semana que vem. Para horizontes mais longos, o Focus também mostra desancoragem.

números

6,79%
é a taxa real de juros no Brasil, apenas atrás da
Rússia (8,91%)

4,0%
é a projeção para o IPCA 2024 no cenário que utiliza câmbio conforme a PPC e Focus

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