20.3 C
Ouro Branco

R$ 270 milhões dá para comprar quantos votos?

Anúncios

Getting your Trinity Audio player ready...

A matemática nunca foi o meu forte, apesar dos inúmeros esforços reiterados de muitos professores que tentaram me ensinar as fórmulas e regras pelas quais se regem os números.

As palavras e as histórias, essas sim, sempre foram mais do meu agrado e com elas, ganhei a vida nesse ofício que exerço há mais de quatro décadas, porém não resisti e consultei minha calculadora assim que soube que a Câmara de vereadores de Natal aprovara, em menos de 48 horas, uma autorização para que o prefeito Paulinho Freire tome emprestado U$ 50 milhões (mais de R$ 270 milhões), ao Banco Mundial.

A secretária de Assistência Social e primeira dama de Natal, ex-vereadora Nina Souza, candidata oficial da prefeitura à deputada federal, tenta justificar tal absurdo dizendo que “Natal tem 280 mil habitantes no cadastro único, com pessoas vulneráveis, pessoas que precisam de um atendimento diferenciado”.

De pronto, dividi o valor desse empréstimo pelo número de pessoas que, pelos critérios da prefeitura, estão necessitando de ajuda. Cheguei a um valor de R$ 964 e uns quebrados por pessoa, o equivalente a 63,5% do nosso salário mínimo.

Isolado assim, esse valor equivalente a pago de uma única vez, não muda em absolutamente nada a vida de ninguém, exceto daqueles que se beneficiarem e eleitoralmente desse tipo de “boa ação social”, financiada com o dinheiro público.

Dizem, nos bastidores, (e eu não quero crer!) que o objetivo dessa operação é ajudar a primeira dama e ex-vereadora Nina Souza a destronar a votação da, também ex-vereadora, Natália Bonavides, que foi a deputada federal mais votada das últimas eleições.

Como disse, números não são minha praia, mas a memória sim… e é inevitável a quem já passou de meio século de vida não lembrar de fatos da nossa história política recente que remetem ao uso de muito dinheiro, investido em assistência social, para comprar votos.

Quem não lembra do episódio das três de uma só vez?…

Primeira dama do governador do estado, presidente do finado PRONAV e poderosa secretária de Bem-estar Social na campanha de 1985 à prefeitura de Natal, Vilma Maia foi derrotada por Garibaldi Filho por causa do escândalo do Rabo de Palha.

A operação eleitoral, discutida em uma reunião comandada pelo então governador José Agripino Maia com seus apoiadores, há exatos 40 anos, no Centro de Convenções de Natal, mudou os rumos da primeira campanha a prefeito de Natal após a redemocratização.

No encontro que reuniu 120 prefeitos, secretários, financiadores da campanha e a torcida do ABC e do América, definiu-se a estratégia de atuação junto ao povo pobre da capital, trocando voto por um enxoval, uma feirazinha, uma perereca (prótese dentária), tijolos, redes, cadeiras de rodas e dinheiro em espécie.

Pela estratégia discutida, também seria preciso incentivar tumultos nos processos de votação e apuração e usar veículos oficiais com placas frias para transportar eleitores do interior para a capital.

Os mais pragmáticos foram peremptórios: “tem que botar o milho no bolso, porque sem milho não funciona”, disse o secretário de Bem-estar Social, que depois foi deputado, vice e até governador do estado.

O meu jogo é aberto. Se é preciso comprar os títulos, vamos comprar. Tem que gastar dinheiro, tem que chegar com o dinheiro”, completou um hoteleiro e construtor que financiava a campanha.

Tudo isso sem “deixar rabo de palha”, alertou o governador que depois se reelegeu governador e senador.

Esse foi apenas um dos tantos exemplos de uso da assistência social para comprar votos. Outros lhe antecederam e lhe sucederam. Até porque seria ingenuidade pensar que político faz assistência social por amor ao próximo ou para diminuir os pecados e garantir seu lugar no céu, que só existe para eles na metáfora do ex-senador potiguar Agenor Maria, para quem se o céu existisse ele era ali, onde ele estava, no Senado.

Nessa matemática, entretanto, só sobra, quatro anos de inferno para os eleitores, sobretudo para aqueles que trocaram seus votos pelos presentinhos, enxovais, óculos, próteses, por uma cesta básica e alguns trocados em espécie.

Sem terem o menor direito de reclamar ao bispo.

Confira o conteúdo original aqui!

Mais artigos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos