Getting your Trinity Audio player ready...
|
“O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, venceu o prêmio de direção no Festival de Cannes, neste sábado (24), logo após Wagner Moura ser premiado em ator. Mas se tiver reparado no elenco do filme, talvez tenha notado, lado a lado de atores como Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido e da potiguar Alice Carvalho, a figura de Kaiony Venâncio, ator natalense de 45 anos.
No filme, que tem estreia no Brasil prevista para o segundo semestre, Kaiony faz o personagem de Vilmar, uma mistura de estivador com matador de aluguel que acaba desempenhando um papel importante para o desenrolar da trama.
Direto de Cannes, em entrevista à agência SAIBA MAIS, ele falou sobre os bastidores da gravação, em como entrou para o elenco do filme, além de revelar uma culpa que carrega consigo. Confira:
O convite
Apesar de ter sido aberta uma seleção nacional para escolha do personagem interpretado Kaiony, depois de um teste, ele acabou sendo convidado pelo diretor Kleber Mendonça Filho.
““Quando Kleber abriu para o Brasil todo no instagram “mande seu vídeo apresentação”, eu estava gravando em outros cantos e dando aula. Quando ia me preparar pra gavar o vídeo, chegou um email da produção de elenco de O Agente Secreto, que é a mesma que fez Cangaço Novo, do qual fiz parte. Eles mandaram uma cena, gravei com meu cunhado no quintal e mandei. Quando foi na semana seguinte, eu estava dando aula de atuação e o celular não pegava… também deixei encostado para não atrapalhar. Quando foi umas 18h saí e fui para o estacionamento. Tinha uma ligação do meu agente dizendo que Kleber queria me conhecer pessoalmente! Fui fazer o teste presencial em Recife. Fiz a cena no meio da rua. Vilmar é um cara que existiu de verdade e é a cara do meu pai. Ele viu e disse ‘muito bom, seu andar é muito bom’. Ele foi contando que tinha um apego ao personagem e do nada disse: ‘nós queremos ter a honra de trabalhar com você’. Fiquei sem reação porque já tinha levado tanto não na cara”, revela o artista, que teve as cenas gravadas de traz para a frente por uma questão de logística, não por vontade do diretor.
Uma frustração e uma culpa
Apesar do desempenho que o levou a Cannes, Kaiony carrega uma culpa: a de ter entrado “tarde” para a carreira artística.
““Eu sempre fui frustrado porque sempre trabalhei com coisas que não me abriram portas para a arte. Eu cresci dentro da igreja evangélica e o lado bom é que ela lhe permite contato com música e teatro, pelo menos de forma amadora. Mas, eu queria ser ator de filme de ação, igual a Van Damme, não bastava ser ator, tinha que ser de ação. Para entrar na arte levei muito tempo, trabalhei muito para empresa privada, em escritório. Sempre fui uma pessoa organizada, mas sentia o desejo de criar, gostava muito de quadrinhos. Quando chegou 2009, foi quando entrei de vez na arte, fui para um evangelismo pelos interiores na equipe de teatro. Quando voltei, estava até doente, um amigo me chamou para fazer teatro na Ribeira. Eu doente e ele diz ‘é hoje, é de graça, bora, tu já faz a inscrição na hora’. Eu tinha deixado o trabalho, mas sem expectativa de nada, do que fazer da vida. A partir daí minha vida começou, mas sempre me considerei uma pessoa atrasada nas artes por ter começado com 29 anos“, Confessa.
Faculdade
““Fui tendo contato com o teatro até que surgiu o curso de cinema na UNP. Meti a cara e nunca mais saí. De 2017 em diante só fiz audiovisual, não foi uma escolha, as coisas foram acontecendo. Sou apaixonado por cinema”, revela Kaiony, que já dirigiu alguns programas infantis feitos por crianças, das quais também era o preparador.
““Minha trajetória não podia ser apenas de ator por uma questão financeira. Não estava aparecendo trabalho, não sou da turma que reclama. Em 2010 as oportunidades começaram, comecei a fazer curta-metragem e, desde então, minha cara foi aparecendo nos festivais, tive três filmes exibidos no Festival da Cracóvia, na Polônia, e ganhei vários prêmios. Estou muito feliz de estar em Cannes”conta oartista, que chegou a chorar ao dar entrevista ao Ministério da Cultura e revela que a equipe também ficou emocionada.
O personagem
O personagem Vilmar, em O Agente Secreto, é um estivador que trabalha descarregando navio e carregando caminhão com itens como açúcar. Mas, apesar do esforço para levar uma vida pacata, ele acaba mesmo sendo contratado como matador de aluguel para aniquilar um dos personagens da trama.
““Kleber mistura sensibilidade com um humor non sense. Ele sempre coloca uns personagens estranhos. Meu personagem é muito brasileiro, é a cara do Brasil que sofreu o êxodo rural, um sobrevivente. Kleber não julga os personagens, ele joga na tela. É um tipo de pessoa que existe na nossa sociedade. Quando recebi o roteiro achei que ele fosse de um jeito, aquele cabra pobre que trabalha para os outros, explorado, à beira de um ataque de nervos, mas na verdade não é nada disso. Ele tem cara de brabo, mas é centrado”.
Cannes, cheguei!
Kaiony também contou alguns segredos de bastidores, como a existência do grupo de WhatsApp formado pelo elenco do filme com o título “Lisos em Cannes”.
“Já venho com uma bagagem de vida que me preparou para chegar nesse local. A vida veio me transformando com as decepções e isso me moldou. Se alguém disser ‘amigo, finja costume’. Quem me conhece sabe que não finjo, o glamour, o tapete vermelho faz parte da vida do artista, não tem essa de ficar feito bicho do mato. Meto a cara, mas de forma natural. Me preparei a vida toda para quando chegasse esse momento eu não tremer, tenho ansiedade para algumas coisas na vida, mas para ter meu trabalho celebrado não é o caso, pelo contrário, eu almejo chegar nesse momento”, reflete o artista, que para o personagem usou lentes de contato verdes.
““Fiquei gatinho, parecendo Jason Momoa, só que sem dinheiro e sem aquele corpão dele”, brinca.
Futuro
Kaiony aguarda as respostas de alguns trabalhos. Um deles foi feito antes de viajar pra Cannes, presencial em São Paulo, no qual passou por cinco etapas. Além disso, ele também foi convidado para um longa, mas ainda aguarda os detalhes do projeto.
““Participei de dois filmes que estão em pós produção: Leite em Pó, de Carlos Segundo, e “Diga a Deus que vá embora”, arremata.
Saiba +
(Tagstotranslate) Cultura
Confira o conteúdo original aqui!