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Peça sobre guerra por igualdade abafada pelas elites leva prêmio da APCA

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A peça “Boi Mansinho e a Santa Cruz do Deserto” conta a história de uma comunidade no Ceará que vivia em um sistema de igualdade cuja autossuficiência incomodou as elites locais, que se mobilizou, junto com tropas federais da Era Vargas, para destruir a possibilidade de uma nova Canudos.

Com montagem do Grupo Clariô de Teatro, em São Paulo, ingressos esgotados e teatro do Sesc Pompeia lotado nos dias das apresentações, a peça escrita pelo cearense Alan Mendonça levou o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), na categoria Dramaturgia e o Prêmio Shell de Teatro, na categoria Música. Agora, a peça virou livro que leva o mesmo nome: “Boi Mansinho e a Santa Cruz do Deserto”.

““A primeira versão foi teatral, surgiu como convite do grupo e, agora com o livro, consegui publicar a versão completa com tudo que imaginei e escrevi, tanto texto, como as letras das canções, que foram musicadas por integrantes do grupo”, detalha Alan Mendonça, autor.

O livro narra e canta sobre a irmandade popular que ficou conhecida na história como a Comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, na região do Juazeiro, que foi uma irmandade popular que ousou construir uma sociedade mais justa, uma vida em comunhão no Cariri cearense nas primeiras décadas do século passado, mas que fora perseguida e destruída pelas forças militares oficiais, mobilizadas pelos poderosos da região, de terno e batina, sob o argumento de fanatismo e com o receio que ali nascesse uma nova Canudos, que vingasse ali um povo livre das esporas da elite das casas grandes, palácios e arquidioceses.

““Era uma comunidade de romeiros na região do Crato. Era uma espécie de Canudos, onde todos eram iguais e passaram a ter subsistência, a não depender de ninguém fora dos cabrestos da política local. Ela se torna autossuficiente e os fazendeiros foram perdendo mão de obra. Isso foi incomodando os poderes, que encontraram uma forma de destruir a comunidade e acusar o beato Zé Lourenço de comunista. Era época de Vargas, de combate ao comunismo. Foi uma comunidade destruída pelas forças oficiais, foi a 1ª vez que usaram avião, foram bombardeados pela força aérea, sumiram com os corpos, quase mil pessoas, na intenção de apagar a história. De tão forte esse apagamento se dizia que essa história não existiu, é violência concreta e abstrata. Com a peça e o livro retomamos essa discussão e cutucamos a história”, analisa Mendonça.

O texto de “O Boi Mansinho e a Santa Cruz do Deserto” é escrito quase todo em rimas, sob estruturas tradicionais da poética nordestina, repleto de musicalidade, seguindo também elementos da narrativa tradicional, como a liturgia do boi presente nas “escritas” de reisado e em quem tem olhos de ver o boi revivido na gira dos passos, na voz de seu povo.

“A peça estreou final de 2022, em São Paulo, e no meio do ano de 2023 passou quase um mês em cartaz no Sesc Pompéia, que é muito importante dentro do universo do Sesc, que já é muito forte. Depois dessa temporada veio o prêmio, que foi muito importante para o grupo, que tem 20 anos de existência, é periférico, que fura a lógica do mercadológico. Para eles foi a 1ª vez que foram indicados e já ganharam! Para mim foi importante porque ter essa visibilidade não é fácil, não é comum de acontecer, foi muito forte. Além de ser texto e letras minhas, é uma história cearense, embora similar a muitas outras nordestinas. Um massacre que passou por um processo de apagamento pela elite cearense. Com isso, transformamos a história em conhecimento, geramos debate, cutucamos as feridas”, defende Mendonça.

Serviço

O quê: lançamento do livro “Boi Mansinho e a Santa Cruz do Deserto”

Quando: sábado (05/07)

Hora: 18h

Local: Café Mahalilala

(Tagstotranslate) Cultura

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