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Os ucranianos acordaram nesta quarta-feira (02/03), sétimo dia de invasão russa ao país, com o som já familiar de sirenes de ataque aéreo em várias cidades.
Paraquedistas russos teriam pousado em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, e estão lutando com soldados ucranianos para tomar o controle da mesma.
Há relatos ainda de que Kharkiv foi alvo de um ataque com foguetes, que teria atingido o prédio do departamento regional de polícia e parte da Universidade Karazin. Na véspera, um prédio do governo regional, no centro da cidade, foi atingido por um míssil.
Em paralelo, o Ministério da Defesa da Rússia afirma que suas tropas já tomaram Kherson, no sul da Ucrânia. Se isso for confirmado, esta seria a maior cidade ucraniana a ser capturada pelas forças russas até agora.
Mas o prefeito de Kherson diz que a cidade ainda está sob controle ucraniano: “Ainda somos a Ucrânia. Continuamos firmes”, escreveu ele no Facebook.
Os moradores de Kiev, a capital do país, tiveram uma noite relativamente calma, embora as sirenes de ataque aéreo tenham disparado novamente.
A capital permanece nas mãos da Ucrânia, mas vem sendo alvo de ataques. Na véspera, mísseis russos atingiram uma torre de TV, matando cinco pessoas e deixando outras cinco feridas. As transmissões foram brevemente interrompidas.
Um enorme comboio militar russo, de 64 km de extensão, também avança lentamente em direção à cidade. Houve pouco deslocamento durante esta madrugada, e o comboio está agora a cerca de 25 km da capital, no norte do país.
Moscou alertou na tarde de terça-feira que realizará ataques a sedes dos serviços de segurança em Kiev para “evitar ataques de informação contra a Rússia” e disse que civis devem deixar esses locais.
Confira a seguir os acontecimentos mais recentes e importantes da guerra.
Petróleo atinge US$ 113 o barril
À medida que os combates continuam na Ucrânia, o conflito segue impulsionando os preços do petróleo — apesar das novas medidas destinadas a acalmar os mercados.
O petróleo do tipo Brent — referência internacional para os preços do petróleo — atingiu US$ 113 (cerca de R$ 580) o barril, registrando o nível mais alto desde junho de 2014.
O preço subiu mesmo depois que os membros da Agência Internacional de Energia concordaram em liberar 60 milhões de barris de petróleo das reservas de emergência.
A Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo, e os investidores estão preocupados que o fornecimento de petróleo ou gás possa ser afetado.
Torre de TV é alvo de ataque em Kiev
Na terça-feira (1º/03), cinco pessoas morreram em um ataque das forças militares da Rússia a uma torre de TV em Kiev.
A estrutura fica próxima de um memorial do Holocausto em homenagem às vítimas do Babi Yar, um dos maiores massacres de judeus na Segunda Guerra.
“Qual é a razão de escrever ‘nunca de novo’ por 80 anos se o mundo permanece em silêncio quando uma bomba cai no mesmo lugar de Babi Yar? Ao menos cinco mortos. A história se repete”, escreveu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Twitter.
Míssil atinge centro de Kharkiv
Pelo menos 21 pessoas morreram e 112 ficaram feridas em bombardeios em Kharkiv, segundo o prefeito da cidade.Na terça-feira, o centro de Kharkiv foi alvo de um ataque a míssil, que atingiu um prédio do governo regional, localizado no coração da Praça da Liberdade.
Ao menos 10 pessoas morreram e 35 ficaram feridas, segundo as autoridades locais.
Na foto abaixo, é possível ver os socorristas removendo os destroços do edifício atingido. Pessoas foram retiradas dos escombros, de acordo com o Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia.
Um teatro e uma sala de concertos, ambos localizados na Praça da Liberdade de Kharkiv, também foram atingidos por mísseis e foguetes russos.
Outras 16 pessoas foram mortas antes do ataque de terça-feira, segundo o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
Ele classificou os ataques à cidade como “terrorismo de Estado”.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia tuitou um vídeo da explosão na Praça da Liberdade (veja abaixo) e acusou o presidente russo, Vladimir Putin, de crimes de guerra.
Moradores da cidade disseram à BBC que estão com muito medo de saírem de seus bunkers ou casas.Os trens de evacuação estão circulando, mas as informações são escassas, e nem todos podem chegar à estação com segurança.
Ataques a outras cidades ucranianas
Kherson, no sul do país, com uma população de 250 mil pessoais, teria sido conquistada por tropas russas.
O prefeito pediu ajuda do governo federal e agências de assistência para garantir a entrega de suprimentos, incluindo alimentos e medicamentos e a evacuação dos feridos.
Uma autoridade local disse à BBC que 200 pessoas foram mortas, muitas delas civis.
Enquanto isso, na cidade de Zhytomyr, no noroeste da Ucrânia, equipes de emergência combatem incêndios em prédios residenciais que teriam sido atingidos por ataque de mísseis.
Autoridades disseram que quatro pessoas foram mortas.
De acordo com o Pentágono, os russos ainda não tomaram a cidade portuária de Mariupol, considerada estratégica. No entanto, conquistaram o controle da cidade portuária de Berdyansk e Melitopol mais a oeste.
Nas redes sociais, vídeos que foram checados pela BBC mostram prédios residenciais destruídos na cidade de Borodyanka, a noroeste de Kiev.
Em um trecho, um homem fala: “Não há tropas aqui, apenas moradores comuns de Borodyanka – avós, avôs, crianças. As pessoas estão se abrigando nos sótãos”.
O vídeo abaixo mostra um parquinho para crianças enquanto uma testemunha diz que de três a quatro bombas foram lançadas de um avião.
As autoridades ucranianas confirmaram também que pelo menos 70 soldados foram mortos no domingo (27/2) em um ataque russo à base militar de Okhtyrka, na região de Sumy, que está atualmente sob cerco das tropas russas.
A foto abaixo foi compartilhada pela autoridade local da região de Sumy, Dmytro Zhyvytskyi. E mostra os esforços dos socorristas tentando encontrar sobreviventes em meio aos escombros.
Ucranianos aprendem a fazer coquetéis molotov
Neste momento, em toda a Ucrânia, cidadãos comuns estão aprendendo a fazer e usar coquetéis molotov.
Em Zhytomyr, uma cidade a oeste de Kiev, um grupo de homens e mulheres recebeu treinamento sobre como acender e lançar coquetéis molotov em alvos militares russos.
Em Kiev, moradores da cidade estão fazendo milhares de coquetéis molotov nas ruas para se preparar para o ataque russo à cidade por terra.
Pentágono: ‘Forças russas avançam mais lentamente do que planejado’
Autoridades de Defesa dos Estados Unidos disseram que a operação da Rússia avançou muito mais lentamente do que o planejado e, agora, enfrenta escassez de suprimentos.
“Eles estão ficando literalmente sem combustível e começando a ficar sem comida para suas tropas”, disse um funcionário à agência de notícias AFP.
O funcionário também disse que há sinais de problemas na moral da força russa, que conta com um grande número de soldados recrutados.
“Nem todos eles estavam aparentemente totalmente treinados e preparados, ou mesmo cientes de que seriam enviados para uma operação de combate.”
O Pentágono disse que as forças russas ainda não assumiram o controle dos céus da Ucrânia depois de seis dias, nem atingiram alvos importantes, como Kharkiv ou Mariupol.
O Pentágono acrescentou que:
- A Rússia lançou cerca de 400 mísseis, mas o sistema de defesa antimísseis ucraniano continua funcionando;
- Lançadores que poderiam ser usados para armas termobáricas foram vistos dentro da Ucrânia, mas a inteligência dos EUA não pode confirmar se alguma arma termobárica está no país;
- Cerca de 80% das tropas russas que cercaram a Ucrânia estão agora dentro do país.
Biden: ‘Quando ditadores não pagam um preço, causam mais caos’
O presidente americano, Joe Biden, dedicou parte do seu discurso anual do Estado da União para falar da crise na Ucrânia.
“Seis dias atrás, o russo Vladimir Putin procurou abalar as fundações do mundo livre, pensando que poderia fazê-lo se curvar aos seus modos ameaçadores”, disse ele.”Mas ele calculou muito mal.”
Ele disse que o povo ucraniano demonstrou uma “força nunca imaginada” e elogiou Zelensky e os cidadãos do país por “sua coragem, sua determinação, [que] inspira o mundo”.
Biden disse que os Estados Unidos e a aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mostraram que o Ocidente está ao lado da Ucrânia.
Ele diz que a história mostrou que, “quando os ditadores não pagam um preço por sua agressão, eles causam mais caos”.
Repreendendo o ataque “premeditado e não provocado” da Rússia, Biden elogiou a coalizão de “nações amantes da liberdade” que se uniram aos Estados Unidos.
“Putin estava errado. Estávamos prontos”, diz ele.
Biden disse que Putin “é o único culpado” pela invasão ucraniana e prometeu que o líder russo “pagará um alto preço contínuo a longo prazo”.
O regime de Putin é sustentado por oligarcas e outros funcionários corruptos “que roubaram bilhões de dólares desse regime violento”, acrescentou, prometendo trabalhar com aliados europeus para apreender iates, jatos e outros itens de luxo russos.
“Nós estamos indo atrás dos seus ganhos ilegítimos”, disse ele.
Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) já divulgaram listas de oligarcas contra os quais foram aplicadas sanções.
Biden ainda confirmou que seu governo está bloqueando todos os voos russos – comerciais e privados – de operar no espaço aéreo americano. A medida segue ações semelhantes impostas por nações europeias e Canadá.
Biden diz que a proibição isolará ainda mais a Rússia e colocará mais pressão em sua economia.
Ele observa que o rublo russo e o mercado de ações já perderam 30% e 40% de seu valor, respectivamente.
O presidente americano pediu aos americanos “que se inspirem na vontade de ferro do povo ucraniano”.
“Putin pode cercar Kiev com tanques, mas nunca conquistará os corações e as almas do povo ucraniano”, disse ele.
Zelensky: ‘Não podemos lidar com isso sozinhos’
A partir de um bunker na capital, Volodymyr Zelensky deu entrevistas à rede de televisão americana CNN e à agência de notícias Reuters.
Ele afirmou ser preciso que os ataques russos sejam interrompidos para que as negociações de cessar-fogo avancem de fato.
Zelensky disse que “a Ucrânia lutará mais forte do que qualquer um”, mas que não pode administrar a guerra contra a Rússia por conta própria.
O presidente ucraniano, que emergiu como uma figura símbolo da defesa do país, disse que as negociações de cessar-fogo só poderiam ser levadas a sério se os combates parassem primeiro.
“Se você fizer isso, e ambos os lados fizerem isso, significa que eles [Rússia] estão prontos para a paz”, disse ele.
“Se eles não estiverem prontos [sic], significa que você está apenas perdendo tempo. Vamos ver [se eles estão prontos].”
Presidente ucraniano é ovacionado no Parlamento europeu
Zelensky falou ao Parlamento europeu por teleconferência e reforçou o pedido para que a Ucrânia se torne membro da UE.
“Nestes últimos dias, não sei mais como cumprimentar as pessoas. Não posso dizer bom dia ou boa noite, porque para alguns este é o último dia”, disse ele.
“Estamos tendo que enfrentar a dura realidade, as pessoas estão morrendo todos os dias. Acho que hoje essas vidas estão sendo sacrificadas por valores, direitos, liberdade e igualdade dos quais você se beneficia.”
“A opção europeia da Ucrânia é o caminho em que estamos nos empenhando hoje. Eu gostaria de ouvir de vocês que a escolha da Ucrânia também é sua.”
“A UE será muito mais forte conosco. Mostramos nossa força e que somos iguais. Vocês podem nos provar que estão do nosso lado, que não vão desistir de nós.”
O presidente ucraniano foi aplaudido de pé pelos presentes.
Presidentes da Ucrânia e EUA conversam por telefone
Biden conversou por meia hora com Zelensky por telefone sobre a invasão russa.
Os dois discutiram sanções contra a Rússia e assistência militar à Ucrânia, disse Zelensky em um tuíte.
O presidente americano também tuitou sobre a ligação.
Diplomatas boicotam ministro russo na ONU
Durante reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, mais de cem diplomatas de 40 países abandonaram a sessão quando o chanceler russo, Sergei Lavrov, discursava por teleconferência.
O boicote foi um protesto contra a guerra travada por Moscou. O representante do Brasil permaneceu no plenário.
Na mesma reunião, o secretário norte-americano de Estado, Antony Blinken, questionou a participação russa no conselho.
“Alguém pode razoavelmente questionar se um Estado-membro da ONU que tenta invadir outro Estado-membro – enquanto comete abusos de direitos humanos e causa grande sofrimento humanitário – deve ter direito de permanecer nesses conselho.”
Belarus não vai se juntar à invasão, diz Lushenko
O presidente da Belarus, Alexander Lukashenko, disse à mídia estatal que suas forças não se juntarão às tropas russas na invasão da Ucrânia.
Lukashenko, que é um aliado do presidente russo, disse que o “Exército bielorrusso não está participando de uma ação militar, e nunca o fez”.
“Podemos provar isso para qualquer um. Mais do que isso, a liderança russa nunca levantou essa questão conosco – nosso envolvimento no conflito armado. E não pretendemos participar dessa operação especial na Ucrânia no futuro. Não há necessidade disso.”
Na segunda-feira (28/2), surgiram temores de que Lukashenko estava se preparando para enviar uma força militar para se juntar ao ataque.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, disse que a Rússia “zombou” da soberania da Belarus ao lançar sua invasão da Ucrânia a partir do território bielorrusso.
Reino Unido anuncia sanções contra Belarus
O Reino Unido está impondo sanções à Belarus, anunciou o governo britânico.
A secretária de Relações Exteriores, Liz Truss, disse que as sanções estão sendo lançadas contra indivíduos e organizações por causa do papel que o país está desempenhando na invasão da Ucrânia.
“O regime de Lukashenko ajuda ativamente e é cúmplice da invasão ilegal da Rússia e sentirá as consequências econômicas de seu apoio a Putin”, disse Truss.
Belarus dobrará tropas na fronteira
Belarus dobrará número de tropas na fronteira sul com a Ucrânia, disse Lukashenko.
Os cinco grupos de batalhões táticos aumentarão para dez nos próximos dois dias, anunciou o presidente
“São grupos móveis altamente treinados que estão prontos para impedir qualquer provocação e qualquer ação militar contra a Belarus”, disse ele ao seu conselho de segurança.
Lukashenko chamou a mobilização de “uma ação preventiva” que “impediria a penetração de radicais e armas [ucranianos] no país”.
As nações ocidentais aplicaram sanções a Minsk pelo apoio da Bielorrússia a Moscou na crise da Ucrânia.
Mais de 660 mil ucranianos já fugiram do país
A agência de refugiados da ONU diz que mais de 660 mil pessoas – a maioria delas mulheres e crianças – deixaram a Ucrânia desde o início da guerra.
Shabia Mantoo, porta-voz da agência, disse que há relatos de pessoas esperando até 60 horas para entrar na Polônia, enquanto as filas na fronteira romena chegam a 20 km.
Esta estação de trem na cidade fronteiriça polonesa de Przemyśl tornou-se um refúgio seguro para milhares de pessoas que fogem do país:
FIA decide que pilotos russos continuarão a competir
O órgão regulador do automobilismo, a FIA, decidiu que os pilotos russos podem continuar a competir em eventos globais, embora não sob a bandeira russa.
O mesmo se aplica aos pilotos bielorrussos devido ao apoio de Minsk à invasão da Ucrânia.
A decisão permitirá que o piloto russo Nikita Mazepin corra na F1 nesta temporada com a equipe Haas.
Os competidores dos dois países hastearão uma bandeira neutra e devem assumir “compromisso específico e adesão aos princípios de paz e neutralidade política da FIA, até novo aviso”, disse o órgão.
A FIA também anunciou que cancelaria o próximo evento da Intercontinental Drifting Cup que seria realizado em Sochi, na Rússia, neste verão.
Ucrânia vai vender ‘títulos de guerra’ para financiar guerra
O governo da Ucrânia disse que planeja vender títulos para financiar suas Forças Armadas, enquanto elas defendem o país da invasão russa.
Pelo Twitter, o Ministério das Finanças da Ucrânia informou que cada título de um ano teria um valor nominal de 1.000 hryvnias, moeda local (cerca de R$ 172) e que a taxa de juros oferecida aos investidores seria “determinada no leilão”.
“Os rendimentos dos títulos serão usados para atender às necessidades das Forças Armadas da Ucrânia”, acrescentou.
ONU votará resolução em reunião de emergência
Diplomatas esperam para a quarta-feira uma votação de um projeto de resolução das Nações Unidas a respeito da guerra.
As negociações ocorrem meio a uma reunião de emergência da Assembleia Geral que foi convocada pelo Conselho de Segurança da ONU.
O encontro, que começou na segunda-feira, reúne seus 193 países-membros.
Esta é apenas a 11ª sessão especial de emergência da Assembleia Geral da ONU desde a primeira, em 1956. A natureza rara desta reunião ressalta a enorme preocupação em torno desta crise.
A expectativa é que a resolução seja aprovada, embora ela tenha um valor mais simbólico porque as medidas previstas por ela não serão vinculativas.
