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O amor como revolução possível; Flipipa canta o livro de Pedro Luís

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Pipa (RN) – “Funciona bem demais. Organiza o caos.” Pedro Luís diz isso com a serenidade de quem aprendeu que a arte não é refúgio, é enfrentamento. O caos, ele confessa, é seu aliado. É dele que brotam as canções, as palavras, o amor. “O caos é um grande aliado”, repete, como quem sabe que o Brasil de hoje — e o mundo — só pode ser entendido a partir do desarranjo.

Na Tenda dos Autores da FLIPIPA, o compositor, poeta e cronista das dores e delícias humanas se apresentou ao público nesta sexta (31) com o mesmo despojamento que conduz sua obra. “Amor, palavra que se canta” é o título do livro e do sarau que transformou a noite em travessia: voz, violão e escuta. O que parecia uma conversa sobre música virou uma reflexão urgente sobre o país, sobre as cidades e sobre a falta de gentileza que tem sufocado o cotidiano.

“Vivemos tempos bem sombrios, onde os poderes paralelos de diversos tipos estão com muita inserção. Foi uma coisa muito triste pra cidade. Ver o Rio de Janeiro, a minha cidade, tão pouco gentil atualmente.”

A fala é política, ainda que dita com delicadeza. Pedro Luís, que já transformou o batuque urbano em resistência sonora com a banda Pedro Luís e a Parede, agora transborda seu canto para o papel. Seu livro reúne letras, memórias e declarações de amor — não apenas às pessoas, mas às causas, às ruas, às contradições de existir.

“Escolhi um ano para falar de amor. Fui costurando pelo tema — o amor às coisas, o amor às pessoas, o amor às causas, o amor à cidade. Num mundo com tanta falta de empatia, o amor é um ativo no qual aposto.”

A palavra, em Pedro, é abrigo e arma. É o jeito que encontrou de resistir à brutalidade cotidiana. A canção, mais do que melodia, é território de encontro. Quando fala sobre os Racionais MC’s, o tom é de reverência:

“Como aquilo não é poesia? ‘Sobrevivendo no Inferno’ é um poema épico. Um livro histórico. Você pode ler ou ouvir como um canto de resistência.”

A reflexão é sobre fronteiras — entre o poema e a canção, entre o artista e o cidadão, entre o amor e o caos. Pedro Luís se recusa a separar o político do afetivo. É nesse entrelaçamento que ele constrói o que chama de “organização do caos”, uma espécie de método de sobrevivência.

Ele fala de amor, mas fala também de perda, de desencontros, de urgências. Conta que fez “Deusa de Si” inspirado em um pedido: “Deus é fêmea”.

“E aí aquilo abriu e acabou saindo de novo: Deus é mãe. E toda a vida.”

A canção que ficou conhecida na voz de Elza Soares nasceu de uma provocação e virou reza. Como tudo em Pedro Luís, a criação vem de um gesto de entrega — à vida, à arte, ao afeto.

“Amor palavra que se canta” é, no fundo, um convite à escuta. Uma convocação poética num país que desaprendeu a ouvir.

Pedro, no palco, parece dizer sem dizer: é preciso reorganizar o caos pela ternura. O amor, para ele, não é fuga. É política. É verbo em estado de urgência.

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