Novo secretário de saúde do Rio Grande do Norte, o médico infectologista Alexandre Motta vai assumir o posto na próxima quarta-feira (26). Anunciado pela governadora Fátima Bezerra dia 18 de fevereiro, ele substitui a médica Lyane Ramalho e já definiu as primeiras prioridades da gestão. Motta espera escalonar as dívidas com fornecedores e prestadores de serviço e buscar alternativas para a superlotação dos principais hospitais de urgência e emergência do Estado: Walfredo Gurgel, em Natal, e Tarcísio Maia, em Mossoró.
Nesta entrevista exclusiva à agência SAIBA MAISAlexandre Motta fala sobre os desafios que terá pela frente na área que tem sido alvo da oposição do Estado. Ele elogia a qualidade e o comprometimento dos servidores da saúde, espera ter um bom relacionamento com os Sindicatos e quer contar com o apoio da população na solução dos problemas.
Agência SAIBA MAIS: Como surgiu o convite para ocupar a secretaria de Saúde?
Alexandre Motta: Eu, sinceramente, achei que estava fora do radar do governo desde as eleições de 2022 (Alexandre Motta foi candidato a deputado federal pelo PT). Mas quando Adriano Gadelha me ligou e disse que a governadora queria me passar uma missão, achei que fosse nessa intenção de assumir a secretaria de Saúde. Conversamos, ele fez o convite em nome da governadora, falou do cenário, das perspectivas do governo e fiquei de resolver umas pendências porque também trabalho em João Pessoa. Poucos dias depois, quando a própria governadora me ligou, eu disse que aceitava. E nos reunimos.
E o que a governadora lhe pediu?
A governadora tem um diagnóstico muito claro do cenário na saúde, que passa principalmente pelas questões financeiras do Estado. Não podemos esquecer que a oposição, quando reduziu a alíquota de ICMS, retirou R$ 1,1 bilhão por ano do Estado, o que dá quase R$ 100 milhões por mês a menos de investimentos nos serviços públicos. E a saúde foi muito afetada por isso. Então a governadora me falou desse contexto, do que ela espera e pediu para manter o que está funcionando bem e aprimorar o que precisa melhorar. Também conversei com a secretária Lyane Ramalho e com ex-secretário Cipriano Maia, para entender detalhes do funcionamento da secretaria e os principais gargalos que precisaremos enfrentar.
E o que precisa melhorar na sua visão? Você já definiu as prioridades da sua gestão?
Primeiro queria dizer que eu encontro uma Sesap muito bem organizada e com um corpo de servidores bastante qualificado e comprometido com a função de servir ao público. E isso é muito importante. Mas temos alguns gargalos, claro. Como falei, a questão financeira pesa bastante. Com o aumento da alíquota de ICMS, que passa a valer a partir de março, devemos melhorar a arrecadação. Estamos aguardando também a confirmação de um aporte de recursos do Governo Federal na saúde. E pretendo priorizar, nesse primeiro momento, o escalonamento da dívida com fornecedores e prestadores de serviço terceirizado, garantindo a regularidade dos pagamentos. Até para nos dar tranquilidade e garantir que os serviços não enfrentem problemas de suspensão. Se eu consigo negociar um parcelamento da dívida e honro essas parcelas mês a mês temos um ganho importante e mais tranquilidade para trabalhar. E é isso que vamos buscar.
E a questão dos hospitais?
Esse é outro gargalo. É um trabalho que precisa também do apoio de outros setores do governo e da sociedade. A quantidade de pacientes de trauma que entra no Walfredo Gurgel em razão de acidentes de trânsito, por exemplo, é muito alta. Então, que tipo de parcerias podemos desenvolver com o Detran e a polícia de trânsito, por exemplo, para prevenir acidentes e reduzir assim a entrada dessas pessoas nas unidades? A parceria com os municípios é fundamental também, já que historicamente sabemos que muitos dos pacientes que entram nos hospitais de trauma poderiam ter sido atendidos antes pela atenção básica. Tenho clareza que resolver esse gargalo é também uma questão de imagem. Então vamos dar transparência à sociedade a cada passo e solução para esse problema. Mas antes de qualquer ação ou medida preciso assumir a secretaria, conversar com a equipe e discutir as alternativas.
O senhor tem facilidade para se comunicar com o público. Já apresentou programas na internet e costuma gravar vídeos externando suas opiniões políticas sobre temas no Estado e no país. Pretende usar essas ferramentas para comunicar as ações da Sesap ?
Primeiro é importante dizer que a comunicação não resolve os problemas nem uma pessoa sozinho consegue dar conta das dificuldades em uma área tão complexa como a saúde. Mas a comunicação é estratégica e importante para melhorar a imagem da gestão. Vamos conversar com a equipe primeiro, entender a dinâmica e traçar estratégias para informar a população da melhor forma possível.
O senhor falou da questão financeira com fornecedores e prestadores de serviço. Mas e o diálogo com os Sindicatos da categoria? Como espera que seja essa relação com o Sindsaúde, por exemplo, entidade que tem feito cobranças incisivas por melhores condições de trabalho e recomposição salarial?
Espero que seja a melhor relação possível. Uma relação de respeito e muito franca. Qualquer conversa com entidades de classe precisa ser transparente e tem que levar em conta o contexto financeiro do Estado. Como eu falei, para tentar enfraquecer o governo Fátima, a oposição retirou quase R$ 100 milhões por mês que poderiam ser investidos em serviços essenciais, como na saúde. Isso tem que estar na mesa, assim como as reivindicações dos servidores. Agora o Sindicato tem que cobrar mesmo, senão perde a principal função da entidade, que é a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores.
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Quem é Alexandre Motta
Médico infectologista, Alexandre Motta, de 61 anos, é formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Defensor do SUS, da vacina e da ciência, o médico atuou na linha de frente no combate à covid-19, no Hospital Giselda Trigueiro, unidade de referência na área de infectologia no Estado. Motta também foi um dos nomes da área da saúde a criticar a política municipal do ex-prefeito Álvaro Dias (Republicanos) durante a pandemia por comprar e distribuir ivermectina – remédio para piolho e sarna – como forma de “tratamento precoce” para a doença, quando cientistas afirmavam que a medicação não funcionava para tal finalidade. Filiado ao PT desde os anos 1980, Alexandre Motta foi candidato a senador nas eleições de 2018, obtendo 242.465 votos, e a deputado federal em 2022, com 4.615 votos.