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Filhotes de tartaruga são soltos em Natal, mas luzes urbanas dificultam trajeto ao mar

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O Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (CEMAM), ONG que atua no litoral do Rio Grande do Norte, realizou na tarde desta sexta-feira (21) uma ação especial de soltura de filhotes de tartarugas marinhas, na Praia de Miami, em Natal. Por ser uma praia urbana e possuir refletores, Miami representa uma ameaça para os animais: a fotopoluição compromete a orientação dos filhotes recém-eclodidos, colocando em risco a sobrevivência deles.

O evento atraiu dezenas de curiosos, entre eles crianças que apelidaram as pequenas tartarugas que caminhavam para o mar. Segundo informações das pesquisadoras do projeto, o registro deste ninho ocorreu em 27 de dezembro de 2024, contabilizando 136 ovos de tartaruga-de-pente. Desses, 29 eclodiram e entraram no mar na tarde de hoje.

A fotopoluição ocorre devido à incidência de luz artificial na praia e é um problema que ameaça tanto as tartarugas marinhas fêmeas, no momento da desova, quanto os filhotes. O ciclo natural seria que esses filhotes usassem a luminosidade natural, da lua, para se guiarem ao oceano após o nascimento.

“A tartaruga se orienta pela iluminação natural. A iluminação artificial desorienta esse animal. Quando a gente vê uma iluminação totalmente artificial voltada para o continente, e não para o mar, esse animal acaba indo em direção ao continente”, explica o biólogo Daniel Solon, presidente do CEMAM.

Ajuda dos pesquisadores é essencial para preservação da espécie, que está ameaçada – Foto: Fernando Azevêdo

Sem a ajuda dos pesquisadores, o que poderia acontecer seria as tartarugas saírem à noite, verem os refletores ligados na praia e se desorientarem. Dessa forma, possivelmente iriam seguir para direções erradas, correndo o risco de morrer por desidratação, predação de outros animais ou serem atropeladas.

Ainda de acordo com Solon, a Praia de Miami, na zona Leste de Natal, não é um local regular de desova e, por ser muito frequentada e urbanizada, logo que soube do ninho, o projeto começou o monitoramento dos ovos, que demoram entre 45 e 60 dias para eclodir.

“Ela (a fêmea que desovou) escolheu um lugar bastante urbanizado, bastante antropizado com muitas iluminações artificiais, por isso foi necessária a intervenção. Desde o primeiro momento que a equipe soube que tinha essa desova aqui, a gente monitorou”, conta.

“Hoje, querendo ou não, as praias estão cada vez mais habitadas, e isso é uma dificuldade muito grande para o monitoramento de controle dessa situação. É um trabalho que a gente faz em paralelo ao suporte aos animais, que é tentar conversar com os parceiros, com o poder público e os empresários (donos de hotéis, por exemplo) para que adaptem a iluminação, porque existem hoje iluminações próprias para evitar um dano maior a esses animais”, frisa o biólogo.

Solon conta que, com cada vez mais ocupação nas praias, estas deixaram de ser escuras e passaram a representar novos perigos para as tartarugas, que já sofriam com a pesca e a interação com o lixo, por exemplo. O evento de soltura também serviu para conscientizar as pessoas que ali estavam sobre a presença de lixo na praia.

A cada mil filhotes de tartaruga, apenas um ou dois chegam à fase adulta. Se algum dos filhotes soltos hoje, na Praia de Miami, for fêmea e chegar à idade reprodutiva, ela irá retornar à mesma praia para desovar. Já se algum macho se desenvolver, ele deve viver integralmente no mar. Cabe lembrar que a tartaruga-de-pente está ameaçada de extinção, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

Evento alertou para a conservação das tartarugas marinhas – Foto: Fernando Azevêdo

Surpreendendo as expectativas da ONG, as praias da Via Costeira, em Natal, têm apresentado muita desova de tartarugas marinhas. No momento, o CEMAM está monitorando 46 ninhos no litoral potiguar. A instituição realiza ações de conservação de forma voluntária, sem apoio governamental ou empresarial. Essa limitação financeira compromete a manutenção e ampliação das atividades.

Na segunda-feira (17), a ONG Tartarugas ao Mar, pertencente à Associação de Proteção e Conservação Ambiental (APC) Cabo de São Roque, anunciou a abertura da temporada de nascimentos e solturas públicas de filhotes de tartarugas marinhas em nove praias do Rio Grande do Norte. Para conferir as datas e os horários de soltura, basta acessar o perfil da ONG no Instagram, clicando aqui. Os avisos ocorrem cerca de 24h antes da soltura.

O Rio Grande do Norte é berçário para diversas espécies de tartarugas. A Agência Saiba Mais explicou o trabalho do CEMAM e de outros projetos em reportagem especial.

Cemam

O Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (CEMAM) surgiu em 2014, em Areia Branca, visando conservar os biomas marinhos e lidar com a megafauna do mar – animais como cetáceos (baleias e golfinhos), aves marinhas, sirênios (peixe-boi) e tartarugas marinhas.

A ONG surgiu por iniciativa de pesquisadores, especialmente biólogos e médicos veterinários, que trabalhavam no Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB), da Universidade do Estado do RN (Uern), o qual existe desde 1998. “A ideia era ter um pouco mais de autonomia, porque até então os projetos eram muito ligados à academia”, diz Daniel Solon.

O propósito da instituição é “mitigar e diminuir os impactos a essas espécies da megafauna marinha”. Um dos maiores desafios da ONG é a captação de recursos financeiros, o que é contornado, principalmente, com apoio de empresas privadas. “Nossos maiores apoios vêm de empresas e prestadoras de serviço, não tanto dos órgãos públicos”, Daniel afirma. A área monitorada pelo CEMAM abrange 223 km, entre o litoral de São Bento do Norte e Baía Formosa, além de atuações pontuais em Galinhos e Areia Branca.

“Embora tenhamos a estrutura técnica e o reconhecimento, os desafios são grandes. O crescimento da nossa atuação é limitado pela falta de apoio financeiro, o que impacta diretamente nossa capacidade de resposta e ampliação do trabalho. Hoje, parte da equipe envolvida nos atendimentos de fauna é composta por voluntários”, informa a assessoria de imprensa do Centro.

O trabalho é realizado em parceria com outras instituições, especialmente o PCCB/Uern. O CEMAM atua no litoral sul até a divisa com a Paraíba, e o PCCB/Uern está presente de Caiçara do Norte até a divisa com o Ceará.

“Quando você salva uma espécie como a tartaruga marinha, que a gente chama espécie bandeira, que ocupa muitos lugares diferentes no oceano, você acaba conservando tudo que está embaixo, tudo que está no entorno”, afirma Daniel.

Para contribuir com o CEMAM, é possível encontrar o canal de doações no site: https://www.CEMAM.org/doacoes

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