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Faustino reproduz discurso de vereador do MBL acusado de xenofobia contra nordestinos

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Projetado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), grupo de extrema-direita criado no final de 2014, conhecido por usar a “tática do insulto” como forma de fazer política, o vereador Matheus Faustino (União Brasil) se envolveu em mais uma polêmica, na última terça-feira (28), ao se referir à cidade de Belém (PA), como um “grande favelão”, durante pronunciamento na Câmara Municipal de Natal (CMN).

O discurso reproduz a mesma retórica usada contra a capital paraense – sede da próxima Conferência do Clima da ONU (COP 30) – por outro parlamentar ligado ao MBL, o vereador de Joinville (SC), Mateus Batista (União Brasil), que foi acusado de xenofobia contra a população das regiões Norte e Nordeste.

Ao falar contra a proposta de implantação da tarifa zero no transporte coletivo, Matheus Faustino disse que “Belém é um grande favelão em que os caras não conseguem nem ter rua direito”.

“Então, qual o sentido de ter tarifa zero aos finais de semana em Belém se não tem nem lugar para ir, não tem rua? É literalmente uma favela a céu aberta (sic)”, discursou.

Saiba Mais: Vereador Matheus Faustino chama Belém de “grande favelão”

Em agosto, ao participar de um podcast, o vereador catarinense Mateus Batista afirmou que apresentaria um projeto de lei para restringir a entrada na cidade de moradores das regiões Norte e Nordeste.

A intenção, segundo ele, era evitar que Santa Catarina “virasse um favelão”, citando como exemplo a capital do Pará, alvo do mesmo comentário xenofóbico feito pelo vereador natalense Matheus Faustino.

O vereador Daniel Valença (PT) repudiou o ataque de Matheus Faustino contra a capital do Pará. O petista frisou que o discurso do parlamentar ligado ao MBL “não é a posição do povo natalense” nem do Poder Legislativo Municipal.

Daniel lembrou que o MBL é a mesma organização do vereador de Joinville, Mateus Batista, que fez ataques xenofóbicos contras os moradores do Norte e do Nordeste.

Ele sublinhou que esse discurso é “algo comum do MBL”, fazendo referência ao modus operandi do movimento dos xarás Matheus Faustino e Mateus Batista.

“Isso é uma vergonha, um triste capítulo do nosso Poder Legislativo Municipal e eu espero que o conjunto dessa Casa diga que não aceita nenhuma forma de preconceito, menos ainda com o povo da Amazônia”, protestou Daniel Valença.

Saiba Mais: Matheus Faustino reproduz “tática do insulto” como arma política usada pelo MBL

Thabatta anunciou ação judicial contra vereador do MBL

Thabatta Pimenta anunciou que entraria com ação judicial contra vereador de Joiville, Mateus Batista, por declarações preconceitusosas contra população do Nordeste. Fotos: Reprodução

Após a repercussão da fala do vereador de Joinville, a vereadora Thabatta Pimenta (PSOL) anunciou que entraria com uma ação popular e um processo criminal por injúria e xenofobia contra Mateus Batista.

Thabatta afirmou que a ação “busca defender os direitos da população, combater discursos de ódio e garantir que a dignidade e a honra dos brasileiros não sejam violadas”.

A potiguar ressaltou que a iniciativa do catarinense “associa nordestinos e nortistas a termos ofensivos como ‘favela’ e ‘lixo’”. Por isso, pontuou ela, a medida “é considerada inconstitucional e xenofóbica, violando direitos fundamentais e o Estado Democrático de Direito”.

“Respeita o Nordeste, cabra safado”, disse a vereadora, em mensagem publicada nas redes sociais.

Saiba Mais: Thabatta processa vereador de Joinville que quer restringir migração de Nordestinos

Vereador do MBL anunciou que apresentaria projeto de lei “anti-migração”

No vídeo que publicou em suas redes sociais anunciando a intenção de apresentar o projeto de lei “anti-migração”, Mateus Batista afirma que, se o fluxo migratório não for controlado, “Santa Catarina vai virar um grande favelão”.

O vereador defende que novos moradores precisam comprovar residência em até 14 dias após a mudança para a cidade, caso contrário não poderiam permanecer legalmente em Joinville.

Ele esteve em Brasília, no final de agosto, com o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), fundador do MBL, para protocolar o projeto de lei que controla a migração interna no Brasil.

O parlamentar argumenta que se o “fluxo migratório” de nortistas e nordestinos não for controlado, “Santa Catarina vai explodir”.

“Nosso projeto de lei, em parceria com Kim Kataguiri, segue modelos internacionais como a Alemanha”, anunciou, ao lado do fundador do MBL.

Ele justifica que o pacto federativo – o sistema que define a distribuição de recursos entre União, estados e municípios – é “injusto”, porque faz Santa Catarina “pagar a conta duas vezes”.

“Primeiro, Brasília arranca o imposto do catarinense e devolve menos de 50% daquilo que a gente arrecada. Depois, a má gestão dos estados do Norte e do Nordeste, como do vagabundo do Hélder Barbalho, governador do Pará, empurra a população para Santa Catarina fugindo do caos que os políticos criaram por lá”, disse.

Vereador também chamou Belém de “um lixo”

Em outras publicações, o vereador de extrema-direita se refere ao Pará como “um lixo”. Ele se defendeu dizendo que não cometeu xenofobia nem atacou o “paraense trabalhador”, apenas criticou “os governantes” que, na opinião dele, transformaram o estado “nesse caos”.

O vereador afirma que a presença de migrantes poderia “transformar a cidade em uma favela”, associando a chegada dessas pessoas com problemas sociais e à sobrecarga nos serviços públicos.

“Os dois primeiros sinais de uma urbanização fracassada é o congestionamento que você catarinense já tá sentindo muito na pele e desordem social, como por exemplo os moradores de rua, ou seja, a merda tá começando a estourar”, declarou.

Mateus Batista argumentou, ainda, que a cidade não terá tempo de “expandir a infraestrutura a tempo de absorver todo esse crescimento populacional” em razão da “capacidade de investimento sufocada”.

“A única opção que resta é o controle interno de migração, caso a gente não queira que Santa Catarina exploda e os serviços públicos ficam inteiramente sobrecarregados”, defendeu.

Sindicato dos Servidores de Joinville repudiou declarações do vereador do MBL

O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Joinville e Região (Sinsej) emitiu uma nota de repúdio, à época, contra o vereador pelos comentários interpretados como xenofóbicos. A denúncia ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) foi realizada pelo vereador Alisson Júlio (PT).

Para o Sinsej, o vereador busca apenas “receber curtidas” nas redes sociais fazendo “histeria” com o discurso xenofóbico – o mesmo reproduzido em Natal pelo seu colega de MBL, Matheus Faustino.

“Ele não diz, por exemplo, que a imigração em Santa Catarina ocorre, em sua maioria, entre catarinenses e estados como Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Ele prefere estigmatizar brasileiros de outras regiões, como o Pará, para reproduzir um apartheid social – uma atitude irresponsável que pode gerar violência contra imigrantes em nossa cidade. Ele não explica que as causas do que ele chama de ”favelização” também estão na especulação imobiliária, no déficit de moradia, na falta de políticas públicas e na insistência em repassar o que é público para o interesse privado”, diz a nota do Sinsej.

Início no MBL

Faustino disse que Arthur do Val, cassado por quebra de decoro parlamentar pela Alesp, é uma de suas “inspirações políticas”. Foto: Reprodução Redes Sociais

Matheus Faustino iniciou o seu ativismo político em 2022, quando passou a integrar o MBL, fundado pelo empresário Renan dos Santos, pelo deputado federal Kim Kataguri (União Brasil) e pelo ex-deputado estadual Arthur do Val (União Brasil), que ficou famoso no YouTube pelo apelido de “Mamãe Falei” – cassado por quebra de decoro parlamentar pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) após o vazamento de áudios em que fazia comentários sexistas sobre ucranianas, durante visita ao leste europeu, a pretexto de cobrir a guerra na Ucrânia.

O grupo surgiu no esteio da operação “Lava Jato”, convocando protestos contra o PT e pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, passando a ter mais visibilidade a partir de 2015.

O MBL cresceu utilizando as redes sociais como principal ferramenta de mobilização para difundir seus ideais, que no início se resumiam à suposta “luta contra a corrupção”, a favor da Lava Jato e pela derrubada do PT.

Depois, o grupo incorporou ideias da chamada “agenda de costumes”, quando passou a travar uma batalha cultural contra pautas progressistas, como direitos humanos, igualdade de gênero e o combate à LGBTfobia.

A partir de então, adotaram o slogan “liberais na economia, mas conservadores nos costumes” como uma espécie de resumo dos seus ideais políticos.

Desde sua fundação, o grupo se notabilizou pelo discurso agressivo, pela postura intimidatória e pela abordagem provocativa contra políticos de esquerda como tática de constrangimento.

Nas manifestações contra Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016, eram comum ouvir ataques machistas de integrantes do MBL. A ex-presidente era chamada de “burra”, “vagabunda” e “prostituta”. Eles também usaram frases como “vai para o tanque” para dizer, nas entrelinhas, que o lugar dela não era na política.



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