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Por Marcus Demétrios | Especialista em Gestão Pública e Presidente do PSB (Partido Socialista Brasileiro) de Parnamirim
Celso Furtado (1920-2004) foi um dos mais proeminentes economistas, historiadores e pensadores brasileiros do século XX, com uma obra vasta e de grande impacto na compreensão do desenvolvimento e do subdesenvolvimento, especialmente na América Latina. Se estivesse vivo, ele completaria 105 anos neste 26 de julho.
No cenário econômico e social contemporâneo, marcado por crises recorrentes, desigualdades persistentes e a necessidade urgente de um desenvolvimento mais equitativo e sustentável, as ideias de Celso Furtado emergem com uma relevância ímpar. Economista, historiador e pensador fundamental para a compreensão do Brasil e da América Latina, Furtado dedicou sua vida a analisar as estruturas do subdesenvolvimento e a propor caminhos para superá-lo. Resgatar seu legado não é apenas um exercício de memória histórica, mas uma necessidade premente para repensar os rumos do nosso país.
Furtado, com sua perspicácia analítica, desvendou as particularidades do processo de formação econômica brasileiro, enfatizando a dependência e a heterogeneidade estrutural como entraves ao desenvolvimento autônomo. Ele argumentava que o subdesenvolvimento não era uma etapa a ser superada automaticamente, mas sim o resultado de um processo histórico específico, onde as economias periféricas se inseriam de forma subordinada no sistema capitalista global. Essa perspectiva crítica, que transcende a mera descrição para buscar as raízes dos problemas, é um dos pilares de seu pensamento.
Um dos conceitos centrais de Furtado é a “criatividade destrutiva” do desenvolvimento. Ele reconhecia que o progresso técnico e a modernização, embora necessários, podiam gerar exclusão social e desequilíbrios regionais se não fossem acompanhados de políticas públicas que garantissem a inclusão e a distribuição dos benefícios. Essa visão é crucial para entender como, mesmo em períodos de crescimento econômico, o Brasil tem historicamente reproduzido e aprofundado suas desigualdades.
Além disso, Furtado sempre defendeu a importância de um planejamento estratégico e de um Estado atuante no processo de desenvolvimento. Para ele, o mercado, por si só, não seria capaz de resolver os problemas estruturais do subdesenvolvimento, sendo indispensável a intervenção estatal para coordenar investimentos, promover a industrialização, distribuir renda e garantir o acesso a serviços básicos. Essa ideia ganha ainda mais força em um momento em que se discute o papel do Estado na condução de uma transição ecológica e na mitigação dos impactos das crises.
As propostas de Furtado não eram apenas teóricas; elas se materializaram em ações concretas durante sua atuação em instituições como a SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), onde buscou implementar um modelo de desenvolvimento regional que contemplasse as especificidades locais e combatesse a pobreza. Sua visão abrangente considerava não apenas os aspectos econômicos, mas também os sociais, culturais e políticos, reconhecendo a interdependência desses fatores para um desenvolvimento genuíno.
No contexto atual, onde os desafios da globalização, da financeirização da economia e das mudanças climáticas se impõem, as ideias de Celso Furtado oferecem um arcabouço teórico robusto para a formulação de políticas públicas eficazes. Seu apelo à autonomia, à justiça social e à sustentabilidade ressoa com as demandas de uma sociedade que anseia por um futuro mais justo e equitativo.
Resgatar Celso Furtado significa, portanto, ir além da reverência intelectual. Significa incorporar sua capacidade de análise crítica, sua ética pública e sua visão de um Brasil capaz de construir seu próprio caminho de desenvolvimento, superando as armadilhas do subdesenvolvimento e construindo uma nação verdadeiramente soberana e inclusiva. É tempo de revisitar suas obras e, a partir delas, alimentar o debate e a ação por um futuro mais promissor.
