Getting your Trinity Audio player ready...
|
Foi Nietzsche quem vaticinou, com a vidência de poeta, o perigo da perda da alegria quando nos tornamos ressentidos. Vida sem alegria: perda da sensibilidade e luta contínua contra os columbários da tristeza e do tédio.
Em seu texto definitivo, Sobre a verdade e a mentira no sentido extramoral, o filósofo denuncia a luta titânica entre o homem sensível e o homem conceitual. O primeiro, diz ele, é aquele que não se nega a possuir a vida. Sua alegria é contagiante e ele recusa fazer do mundo uma simples representação de suas ideias e conceitos. Nele, o corpo é a experiência da “mundidade do mundo” (Heidegger).
Já o homem conceitual, ao contrário, é habitante de um distrito de razão. Faz dos conceitos sua parede de proteção. Sua blindagem emocional é experimentar o mundo sempre a partir das fortalezas da racionalização. Para Nietzsche, esse é o homem covarde, pois se nega a possuir a vida. É um homem doente pela racionalização das coisas do mundo. O ressentimento sobre as chagas da existência é sua linguagem. Faz da raiva e da tristeza sua gramática civilizatória.
No cotidiano das salas de aula universitárias, esbarramos com muitos assim. Fazem loas ao ensino sem paixão, sem motivação profunda para os discentes. Têm ódio dos colegas que tentam engajá-los noutra perspectiva. Desqualificá-los é seu lema. Além disso, são aqueles que já não enxergam no exercício de ensinar nenhuma magia. Para eles, os discentes são reificados como números, desprovidos de sabedoria e entusiasmo.
Mestres sem utopias são como relações de amor entre pessoas desencantadas — incapazes de surpreenderem-se mutuamente. Como diziam as mães interioranas aos seus filhos e filhas: já não vestem mais sua melhor “roupa domingueira” quando vão para a sala .