23.9 C
Ouro Branco

Carta a uma Brisa que canta a ira na cidade de Natal

Anúncios

Getting your Trinity Audio player ready...

Prezada Vereadora Brisa,

A notícia de sua cassação não pode ser compreendida como um evento isolado. Ela integra um movimento articulado da extrema-direita que busca afastá-la da vida pública, neutralizando sua atuação e o projeto político que você representa. Trata-se de um processo que ultrapassa disputas partidárias e atinge diretamente o campo democrático.

Desde o início, venho defendendo que não cabe aceitar acordos pragmáticos que exijam moderação artificial ou renúncia à sua postura crítica. O que está em jogo não é apenas o mandato de uma parlamentar do PT, mas a preservação de valores fundamentais: a defesa das liberdades individuais e coletivas, a legitimidade dos afetos e dos corpos dissidentes e a construção de uma cidade capaz de acolher a diversidade que a constitui.

Homero, na Ilíada, recorda que a política pode nascer da indignação justa: “Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles”. A cólera homérica não é descontrole — é a reação ética diante da injustiça. É justamente essa ira política que muitos não suportam quando confrontados com mulheres jovens, progressistas e combativas como você. A ofensiva que enfrenta reproduz uma guerra discursiva marcada por desinformação, misoginia e moralismo.

A pressão popular será decisiva. Não podemos confiar em acordos de bastidor nem na racionalidade democrática daqueles que atuam, muitas vezes, segundo a lógica da necropolítica, administrando a violência, o apagamento e o ódio.

Sua trajetória também convoca outra figura da tradição homérica: Briseida (Briseis). Na narrativa clássica, reduzida a objeto de disputa entre grandes guerreiros, mas, nas releituras contemporâneas, resgatada como mulher que resiste, pensa e recusa a condição de silenciamento. O ataque à sua voz ecoa esse padrão histórico de tentativas de apagamento feminino. Como lembrou Marx, as formas de dominação se repetem — ora como tragédia, ora como farsa — e hoje se expressam nos esforços para calar as Briseidas, Briseis e Brisas da vida política brasileira.

Defender seu mandato é defender a democracia, a liberdade de expressão e o direito de existir na política sem ser domesticada pela violência estrutural. Sua presença é necessária para que Natal permaneça um espaço plural e verdadeiramente público.

Somos todos Brisa.

Alex Galeno

Confira o conteúdo original aqui!

Mais artigos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos